terça-feira, março 21, 2006

Não. A ti...não


Poder divulgar que és tu que habitas dia após dia na minha cabeça?
Não seria repouso…tu não sabes, mas embalas-me por dentro.
O meu corpo tem estremecido, o meu pensamento tem vagueado…o oculto faz parte dos meus dias…
Pareces “perfeito” demais…tão perfeito que não serás o ideal para a perfeita imperfeição que é a minha.
Procuro os teus defeitos para me agarrar ao chão que piso invés de o fazer à tua presença…não te quero querer como quero…não, ainda não….e tu, também não podes…agora, não podes.
Fogem estes meus sentimentos que ganham vida própria e forçam em evidenciar-se…ainda que o façam só para mim.
Não quero sequer pensar que poderás pertencer aos meus pensamentos que permanecem dia e noite…aqueles que me atormentam nas horas menos convenientes e que me visitam quando menos espero focar algo para pensar.
Não te quero desejar, não a ti…esta incessante prova que evito, torna-se a cada dia como um novo e velho,simultaneamente, engano.
Mas está a entornar-se dos meus limites…e não liberto estes impulsos por pressentir a tão presente negação e o erro que se apoderam sobre mim…a tão ciente reflexão de que nada passará para além do que apenas é.

domingo, março 12, 2006

(?)


O que és tu para mim?
Desejo um sinal claro, sem margem para dúvidas, sincero e sóbrio. Ao invés de transformar ao meu anseio aquele que me podes dar.
Coragem para te dar forças para o fazer…onde esta? Essa está esquecida, partiu e levou com ela também a esperança, que já sendo pouca mantinha o cintilante brilho nos meus olhos…aquela pequena beleza que os tornava preciosos e magníficos
E a força que desenhava um contagiável riso alimentado de alegria e luta? Essa desmoronou-se e roubou-me a convicção do meu sorriso…aquele que eu usava para transmitir o bem-estar, a segurança que me guiava sempre dia-a-dia…
E no final, que não é final, não o chega a ser porque para o ser precisa essencialmente de o ter…um final, abandono-te sem nunca te ter pegado, largo-te sem nunca te ter abraçado, solto-te sem nunca te ter mostrado tudo aquilo que podia ter vindo a ser.


“you have a blue guitar,
You do not play things as they are
Things as they are
(…)are changed upon the blue guitar
But play, you must,
A tune beyond, yet ourselves,
A tune upon the blue guitar
Of things exactly as they are”

(Wallace Stevens)

quinta-feira, março 02, 2006

sussurros de mim


Por momentos desejo despir o que sou, num gesto vazio vestir outra pele.
A minha parece gasta e viciada.
A alternante mudança vira-se num ciclo vicioso em que me calha sempre a mesma peça.
Um vazio interior sem entendimento meu…um “sugamento” de intenções, valores, convicções.
Um aperto aberto simultâneo, por dentro que expira o resto, em mim já despedaçado.
Uma força superior guiada pela minha incapacidade inconstante…uma divagação alimentada por esta ausência de vontade, que me toma e corrói.
Sopro a minha energia e alegria de viver o momento…tento agarrá-la mas escorrega antes de a conseguir alcançar.
Mudo então a minha atitude, mas mantêm-se em mim os mesmos sentimentos. A minha ânsia e desespero vêm-se num outro plano onde aparece o meu reflexo, então, torno-me no alvo de mim própria.
É agora que recomeça, mas com mais intensidade, com mais afundamento, com mais pujança que tivera, mas agora, diante de mim. Não um surreal que me transforma, mas que se forma e me atinge…o meu próprio ser colide comigo e o qual eu não pareço querer derrotar.
Agora acordava e tudo isto não passaria de um pedaço de imaginação descuidada, um devaneio mental que agarrava e despedaçava em pedaços derradeiros…mas…só é esta a fase que presencia o sonho…o outro resto é bem realidade e toma-me a cada instante mais profundamente.